Atacante deixou a pequena Cidade de Pentecoste, no Ceará, peregrinou por times do Nordeste e enfim se firmou no Atlético-PR

A adoração de cerca de 35 mil pessoas da cidade não é à toa. Foi em
Pentecoste, no ano de 1989, que Ederson nasceu, filho de Valdemir Rosa
da Silva, de 45 anos, e Eliane Alves Ribeiro Silva, de 43. Família
humilde, de poucos recursos financeiros, mas que, unida, batalhou para
tornar realidade o sonho do filho de ser jogador de futebol.
O desejo de Ederson surgiu ainda quando ele ainda era pequeno. Não se
permitia nem por um segundo ficar sem o brinquedo favorito. A bola o
acompanhava na hora do almoço, da diversão na rua e até mesmo durante as
aulas no colégio. Por diversas vezes, recebeu puxões de orelha da mãe
por quebrar os objetos da casa. Mas, mesmo assim, não desistia da
redonda.
A persistência sempre foi uma característica de Ederson. E por isso o
atacante foi aprovado em testes para as categorias de base do Ceará. Com
apenas 15 anos, durante jogos festivos da cidade no fim do ano, o jovem
foi observado e levado para a capital Fortaleza para treinar. No dia
seguinte, recebeu a ligação dizendo que havia sido aprovado e
providenciou os documentos necessários, pois já iria disputar o
Campeonato Cearense Sub 17. Viajou para Fortaleza com as economias da
família e as doações de amigos e estreou pela equipe com cinco gols na
vitória por 7 a 0 contra o Tiradentes.
No novo clube, passou a morar no alojamento da base e mantia o contato
diário com os pais, que se esforçavam para mensalmente enviar uma
quantia que pudesse ajudá-lo. Eles organizavam bingos pela cidade,
arrecadavam o dinheiro e mandava para o filho. Foi assim até 2007, ano
em que o Atlético-PR, que mantinha um acordo com o Ceará e promovia o
intercambio de atletas da base, levou o atacante para Curitiba.
Antes de mudar de Estado, os pais de Ederson conheceram as dependências
do clube paranaense e concordaram em deixá-lo jogar por lá. A partir
daí, passou a ganhar uma ajuda de custo e não mais precisava que os pais
o ajudassem. Pelo contrário, foi ele quem passou a ajudar a família em
Pentecoste. Demorou para adaptar-se no Sul do país e, quando completou
18 anos, em 2007, foi emprestado para disputar a Série B do Campeonato
Brasileiro pelo Ceará.
O desempenho no início da competição foi bom, mas em julho veio a
notícia triste: Ederson sofreu uma lesão completa do ligamento cruzado
anterior do joelho e teve que passar por cirurgia. O atleta retornou
para Curitiba e iniciou a recuperação que o afastou dos gramados durante
seis meses.
Em 2010, o goleador voltou a ser emprestado, desta vez para o ABC. Em
Natal, no Rio Grande do Norte, Ederson conheceu Deise e casou-se. Vivia
bom momento dentro de campo, sendo um dos destaques da Série C do
Brasileiro e também do Campeonato Potiguar, e fora dele curtia, ao lado
da esposa, a gestação do primeiro filho, Heitor. No entanto, com oito
meses de gravidez, Deise sentiu que o bebê não estava mais se mexendo e
resolveu ir ao médico. Após exames, fora constatado que o cordão
umbilical enrolou no pescoço de Heitor e o tirou a vida. Foi o maior
drama já vivido por Ederson.
Embora abatido com a morte do filho, o atacante não deixou de cumprir
seus compromissos com o ABC. Treinava, jogava e, mesmo quando o descanso
era pouco, fazia questão de visitar a esposa todos os dias no hospital.
Juntos, eles se apegaram à religião e intensificaram as idas à
Congregação Assembleia de Deus. Meses após a morte de Heitor, Deise
descobriu que estava grávida novamente e, no dia 11 de outubro de 2012,
Esther nasceu. Ederson não pensou duas vezes e no braço direito
imortalizou o nome dos dois filhos com uma tatuagem.
Animado pelo nascimento da filha, Ederson ainda contou com a confiança
do técnico Ricardo Drubscky para continuar no Atlético-PR e tentar subir
na carreira. No início de 2013, o treinador convenceu a diretoria do
clube amantê-lo, à princípio para a pré-temporada na Espanha. Agradou,
fez gols e foi mantido no elenco para a disputa do Brasileirão e da Copa
do Brasil. E então Ederson "surgiu" para o futebol brasileiro.
"Eu acreditei no potencial dele. Ele é um menino excelente, muito bom
jogador e que está passando por uma fase de fixação. Como tudo na vida,
nós precisamos de oportunidades, e foi isso que dei a Ederson. Eu tinha
certeza que ele tinha qualidade e, para nossa felicidade e por mérito
dele, está vivendo essa boa fase", falou Drubscky, hoje no Joinville, ao
iG .
O fato de disputar a Série A pela primeira vez não intimida o atacante, e
os gols chamam a atenção também fora do Brasil. Recentemente, ele
recebeu sondagens de clubes da Ucrânia e da Espanha, porém, o
Atlético-PR logo tratou de estender o vínculo até dezembro de 2016.
Contra o Flamengo, nesta quinta-feira, às 19h30, no Macaranã, ele
promete fazer mais.
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